
Fortaleza, Ceará, Brasil, 03 de dezembro de 2025.
Assunto: NOTA PÚBLICA SOBRE A TRAJETÓRIA E A LEGITIMIDADE DO IAB À FRENTE DA BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA DE SÃO PAULO.
O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) vem a público manifestar que não é o responsável por novos eventos recentemente lançados que se utilizam do termo correlato ao tradicional e reconhecido evento promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, a “Bienal Internacional de Arquitetura”.
Entre 18 de setembro e 19 de outubro o IAB, por meio do Departamento de São Paulo, realizou a 14ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura, este ano com o título “Extremos: arquiteturas para um mundo quente”, na Oca, Parque do Ibirapuera, na capital paulista.
É recente e de divulgação posterior outra “bienal de arquitetura”, de promoção privada, que vem gerando questionamentos ao Instituto. Diante disso, o IAB vem a público reafirmar seu papel histórico como organizador e legítimo detentor desse patrimônio cultural, consolidado há mais de cinco décadas.
Com 104 anos de existência, enquanto entidade profissional reconhecidamente de interesse público, o IAB promove, desde sua fundação, inúmeros eventos e iniciativas voltados à valorização da arquitetura e da produção dos arquitetos, sendo amplamente reconhecido pela sociedade brasileira e internacionalmente como referência na reflexão sobre a cultura arquitetônica e os desafios urbanos do país e do mundo.
Uma trajetória de mais de 50 anos
A Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (BIAsp) tem sua origem na I Exposição Internacional de Arquitetura, organizada em 1951 por arquitetos do IABsp no contexto da I Bienal de Artes Plásticas, realizada no espaço do Pavilhão do Trianon. A presença da arquitetura nas Bienais de Arte intensificou-se nas décadas seguintes, culminando, em 1971, na assinatura de um protocolo entre o IAB, a Fundação Bienal de São Paulo e o Banco Nacional da Habitação (BNH), para a criação de um evento próprio. Assim, em 1973, sob a liderança do IABsp, realizou-se a I Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, no Pavilhão das Bienais (Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera), com curadoria de Oswaldo Corrêa Gonçalves, homenageando Lúcio Costa, Vilanova Artigas, Joaquim Cardozo, Flávio de Carvalho e Roberto Burle Marx, e reunindo representações de mais de vinte países.
Após um intervalo de duas décadas, a 2ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (1993) retomou o evento e voltou ao Parque Ibirapuera, com o tema “Arquitetura, Cidade e Natureza”, tendo Oscar Niemeyer como homenageado e reafirmando o papel da Bienal como espaço de reflexão sobre as relações entre o ambiente construído e o meio natural. A partir daí, a Bienal consolidou-se como fórum público, internacional e crítico da arquitetura brasileira.
Assim como a 1ª (1973) e a 2ª (1993), as edições seguintes – da 3ª (1997) à 8ª (2009) – também foram realizadas no Pavilhão das Bienais Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera, marcando um novo ciclo de amadurecimento conceitual e, institucional, bem como a internacionalização do evento. Cada uma delas ampliou o debate sobre o papel social e cultural da arquitetura: a 3ª edição (1997) discutiu a urbanização e a desumanização das metrópoles; a 4ª (1999) abordou arquitetura e cidadania, com ampla programação voltada ao público; a 5ª (2003) tratou a metrópole como síntese das transformações contemporâneas; a 6ª (2005) explorou realidade, arquitetura e utopia; a 7ª (2007) contrapôs o público e o privado; e a 8ª (2009), sob o tema “Ecos Urbanos”, introduziu os debates sobre sustentabilidade e requalificação urbana. Essas edições consolidaram a Bienal como um dos principais espaços internacionais de crítica e experimentação sobre o futuro das cidades.
A 9ª BIAsp (2011) inaugurou uma nova fase, também no Parque Ibirapuera, no Pavilhão da Oca, com o tema “Arquitetura para Todos: Construindo Cidadania”, reafirmando a dimensão educativa e participativa do evento.
Nas edições seguintes – 10ª (2013), 11ª (2017), 12ª (2019) e 13ª (2022) -, a Bienal espalhou-se pela cidade de São Paulo, experimentando novos formatos e territórios. A 10ª edição (2013), “Cidade: Modo de Fazer e Modo de Usar”, ocupou múltiplos espaços como o Centro Cultural São Paulo, SESC Pompeia, o MASP, Museu da Casa Brasileira e o Minhocão, promovendo um debate sobre mobilidade, densidade e espaço público. A 11ª (2017), “Em Projeto”, transformou a cidade em um laboratório vivo, com mais de 80 ações em espaços coletivos como a Praça das Artes, Vila Itororó e Casa do Povo, aproximando arquitetura, urbanismo e movimentos ativistas. A 12ª (2019), “Todo Dia”, destacou o cotidiano como campo de invenção e resistência, reforçando o diálogo entre práticas arquitetônicas e experiências urbanas. Por sua vez, a 13ª Bienal (2022), “Travessias”, realizada no Centro Cultural São Paulo e no SESC Avenida Paulista, retomou o enfoque social e cultural da arquitetura, articulando corpos, territórios e memórias e reconhecendo práticas coletivas, ancestrais e insurgentes.
Por fim, a mais recente, a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (2025), com o tema “Extremos: Arquiteturas para um Mundo Quente”, retornou à centralidade expositiva e ao Parque Ibirapuera, sendo realizada novamente no Pavilhão da Oca, e enfrentou de forma contundente os desafios de um tema fundamental, que é o enfrentamento, pelo campo da arquitetura, urbanismo e paisagismo, da crise climática global. A edição estruturou-se em cinco eixos temáticos – preservar as florestas e reflorestar as cidades; conviver com as águas; reformar mais e construir verde; circular e acessar juntos; e garantir a justiça climática – e contou com 45 mil visitantes presenciais, 200 projetos expostos e mais de 10 milhões de visualizações nas redes online, reafirmando a Bienal como plataforma pública, democrática e internacional de reflexão sobre o futuro da arquitetura e do urbanismo.
O acervo histórico da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que reúne mais de meio século de produção arquitetônica e curatorial, está disponível para consulta pública no portal oficial do IABsp (iabsp.org.br/bienal). O material inclui registros de todas as edições, catálogos, imagens e documentos institucionais que narram a trajetória do evento desde 1973. Parte desse conteúdo também está documentada em publicações de referência, como IAB/SP 80 anos: Falando em Público (IABsp, 2024); Arquitetura em Retrospectiva: 10 Bienais de São Paulo, de Elisabete França (Queen Books, 2018); e IAB 1921-2021 (Rio Books, 2022), obra lançada por ocasião do centenário do Instituto de Arquitetos do Brasil.
Um patrimônio público e democrático
A Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo atravessou a ditadura, a redemocratização e o século XXI mantendo-se pública, aberta à sociedade e comprometida com o acesso democrático à arquitetura e ao urbanismo. Ao longo de sua trajetória, consolidou-se como espaço de reflexão, crítica e experimentação, voltado a debater as agendas contemporâneas e a aproximar a sociedade dos temas que moldam nossas cidades.
O pioneirismo do IAB na criação de um espaço internacional voltado exclusivamente à arquitetura inspirou iniciativas semelhantes em outros países. A própria Bienal de Arquitetura de Veneza, hoje uma das mais prestigiadas do mundo, foi estruturada posteriormente a partir de experiências como a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo de 1973, reafirmando o papel do Brasil como pioneiro e referência internacional na promoção de fóruns de debate sobre arquitetura e urbanismo.
Mais do que uma mostra de projetos, a Bienal de Arquitetura tradicionalmente propõe diálogo, crítica e participação, reafirmando-se como fórum aberto à diversidade, à escuta e à construção coletiva de conhecimento. Iniciativas que não se orientem por essa compreensão – a de um evento curatorial, público e propositivo – configuram formatos de natureza distinta, voltados a propósitos diferentes do interesse público e cultural que fundamenta o que se entende por uma Bienal.
Atenciosamente,
Odilo Almeida Filho
Presidente Nacional do IAB
Raquel Furtado Schenkman
Presidente do IAB-SP
