IAB lança livro de seu centenário e homenageia arquitetos em cerimônia no Rio de Janeiro

Por Sabrina Ortácio

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) lançou nesta sexta-feira (14/10) durante a 172ª Reunião do Conselho Superior da entidade, na sede do departamento do Rio de Janeiro, o livro que celebra seu centenário. A publicação “IAB 2021-2022”, da editora Rio Books, reúne depoimentos, textos e imagens históricas do acervo da entidade.

“Neste livro, a publicação em fac-símile de alguns dos mais importantes manifestos do IAB não é apenas uma dívida histórica, mas um convite à reflexão e à perseverança”, destaca Maria Elisa Baptista, presidente do IAB.

 

 

Para ela, encerrar com a resenha de José Alberto Almeida do livro Caminhos que levam à cidade, de Vera França e Leite, é apontar a flecha do tempo para o passado e para o futuro, sem nos furtarmos a assumir o vértice da inflexão vetorial. “Ao encerrar sua escrita na Constituição Cidadã, Vera nos deixa um recado claro: estamos, de novo, em tempos que exigirão de nós a fibra e o discernimento daquele IAB corajoso refletido em suas linhas”, observa Maria Elisa.

 

Homenagens

A Plenária Final do evento também foi de honrarias e contou com a presença de autoridades e importantes nomes da Arquitetura e Urbanismo do país. Cinco arquitetos receberam as comendas Colar do IAB, Medalha Lúcio Costa e Medalha Gastão Bahiana, por sua contribuição notável ao IAB e pelo conjunto de sua obra e serviços prestados à profissão. Também foram indicados três nomes para a inscrição no Livro de Honra do IAB.

Novos símbolos

Esse ano os objeto que representam as comendas, até então um colar de ouro e medalhas de prata, foi substituído por um símbolo contemporâneo que representa a caminhada pela liberdade, a luta por territórios, povos e vidas. “No lugar do mineral arrancando duramente de nosso chão, escolhemos a semente que germina, alimenta, morre e recomeça. Pensamos ser um modo de representar a luta ambiental e pela vida dos povos originários”, justificou a presidente Maria Elisa Baptista.

Os novos símbolos escolhidos para homenagear foram colares de semente confeccionados pelas índias Turí e Tinguí, de etnia Pataxó, que apresentaram sua cultura em depoimento durante a cerimônia.

“Tínhamos necessidade de nos atualizar, o que não é fácil, pois buscamos com essas comendas um registro histórico, e que pode permanecer neste mundo tão mutante. Ora, o que precisa permanecer é a continuidade da vida, essa que não está no que não muda, mas justamente no que muda, no que não é fixo, mas sim no percorre, circula e modifica”, destacou Maria Elisa.

Medalha Lúcio Costa
A Medalha Lúcio Costa foi concedida ao arquiteto Luiz Carlos de Menezes Toledo. Emocionado e com dificuldades para falar, ele passou a palavra ao ex-presidente do IAB/RJ, Luiz Fernando Janot, seu amigo desde os tempos de estudante que fez a leitura do agradecimento. No texto, foram citadas muitas memórias, entre elas projetos como o Rio Cidade e Baixada Viva, além do projeto de urbanização da Rocinha, que o consagraram como um dos grandes nomes da arquitetura brasileira. Alguns moradores da Rocinha que estavam presentes na cerimônia ovacionaram o homenageado.

 

Livro de Honra
A Inscrição no Livro de Honra do IAB é uma tradição na entidade centenária para exaltar a memória de importantes profissionais que já nos deixaram. Os nomes inscritos simbolicamente nesta edição do COSU foram de Antônio Carlos Campello Costa, Carmen Portinho e Renato Luiz Martins Nunes.

Colar do IAB
A arquiteta Dora Alcântara, de 89 anos, esteve presente na cerimônia em que foi agraciada com o Colar do IAB. Em sua fala, Dora relembrou carinhosamente o incentivo do pai na escolha da profissão (até então dominada por homens) onde ela se tornou referência nos estudos sobre azulejaria. Formada pela Faculdade Nacional de Arquitetura, atual FAU/UFRJ, Dora também falou de sua dedicação ao ensino e à preservação do patrimônio. Com uma ótima memória e bom humor ela ainda lembrou da convivência com grandes nomes da arquitetura brasileira em Congressos e Universidades.

Medalha Gastão Bahiana
A Medalha Gastão Bahiana, que leva o nome do primeiro presidente da entidade na gestão entre 1921 e 1924, é outorgada a personalidades que tenham contribuído com destaque para a construção do IAB e seus ideais. Este ano, para receber a homenagem foram escolhidos os conselheiros Antônio Carlos Moraes de Castro, Salma Cafruni e Vera França e Leite.

Em sua fala, Antônio Carlos Moraes de Castro agradeceu a homenagem e destacou que todos que fazem parte do IAB têm muita vontade de trabalhar. “Nunca é demais dizer que a história dessa entidade foi se repetindo nestes 100 anos, no sentido de reconhecer o trabalho de todo nós. Quando um reconhece o outro, existe uma harmonia, o que é muito bom nestes tempos tão difíceis”, observou. Na cerimônia ele lembrou que já estava atuando no IAB quando chegou em Brasília, faltando 39 dias para a inauguração da cidade. “Fizemos tudo o que precisava. Tínhamos e temos compromisso com a nossa base. Estou muito feliz e satisfeito com essa homenagem”, disse. Moraes dedica 54 anos de sua vida à arquitetura. Coleciona obras, assim como inúmeros prêmios em sua trajetória. Atuou no IAB, CREA-DF, foi presidente da Federação Pan-americana de Associações de Arquitetos (FPAA), sendo o primeiro arquiteto brasileiro a ser presidente de uma entidade internacional de arquitetos, recebendo medalhas e títulos em 12 países.

A arquiteta gaúcha Salma Cafruni recebeu emocionada a comenda Medalha Gastão Bahiana de Mérito Institucional do IAB, das mãos de Rafael Passos, do vice-presidente nacional da entidade e presidente do departamento Rio Grande do Sul. Em sua fala, Salma fez questão de compartilhar a homenagem com colegas arquitetos do IAB RS. “Ao longo de seus 74 anos o IAB RS se tornou uma entidade respeitada, uma casa de grandes debates e de grande importância política e profissional”, destacou.

A homenagem para a arquiteta Vera França e Leite veio das mãos da presidente do IAB Maria Elisa Baptista. “Minha missão aqui hoje é homenagear o grande professor, companheiro e arquiteto Edgar Graeff”, disse ela sinalizando a foto dos dois projetada na parede.  “Se ele estivesse entre nós estaria comemorado no ano passado seus 100 anos junto com o IAB, pois nasceu em Carazinho em 1921”, complementou.  Vera destacou que Graeff foi um grande professor de história e teoria da arquitetura e um pensador da arquitetura brasileira. “Se estivesse aqui, estaria nos abraçando e assinando com todos nós um manifesto pelos direitos democráticos, pela paz entre os povos e pela preservação da vida nosso país”, finalizou Vera França e Leite.

 

FOTOGRAFIA: Raphel Magalhães e Sabrina Ortácio