Viva Campelo Costa – Por Joaquim Cartaxo

Por Joaquim Cartaxo

Comecei a conviver com o Campelo quando iniciei minha graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC pelos idos de 1975. Ele era membro diretor e eu sócio-aspirante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Com o desenrolar desse relacionamento, descubro um profissional da arquitetura dedicado ao desenho que tratava a cidade e o edifício de modo articulado e integrado. Verbalizava esse desenho citando o arquiteto Vilanova Artigas, a quem considerava como mestre, que proclamava: “a cidade é uma casa, a casa é uma cidade”.

Intelectualmente, era uma pessoa inquieta com as dimensões da vida nos planos da natureza e da cultura, tanto no tocante à memória como às relacionadas aos futuros com suas linhas do horizonte e pontos de fuga.

Convivi o dia a dia de angústias campelinas quanto aos destinos do País. Politicamente, era um arquiteto engajado nas lutas contra a ditadura militar de 1964, pela Anistia Geral e Irrestrita, Diretas Já e Reforma Urbana. Testemunhei sua presença efetiva e afetiva nas lutas populares por melhores condições de vida e de trabalho para o povo brasileiro.

Como artista plástico, era versado no desenho advindo da imaginação e no desenho ao vivo de lugares e pessoas na rua ou no bar. Dizia que ao desenhar alguém, capturava-o. Ultimamente, estávamos concluindo juntos com o arquiteto José Alberto de Almeida, o Beto Baiano, dois livros: um relacionado à 100ª reunião do Conselho Superior do IAB, ocorrida em Fortaleza no ano de 1997; o outro sobre o arquiteto Vilanova Artigas.

Campelo faleceu em 3 de maio de 2022, inesperadamente. Deixa inúmeras saudades. Dentre elas, a alegria permanente e a irreverência nata. A saudade do sonhador da realidade possível e a saudade da utopia contagiante manifestada no discurso e no texto autoral, nas polêmicas em que se metia e na defesa firme das ideias e ideais.

Nasceu no sertão pernambucano em Belo Jardim e morreu no território marítimo da Praia de Iracema em Fortaleza, onde morava. Seu jeitão misturava duas poéticas: o berro sertanejo e a capacidade de navegar pelos mares bravios. Um desenho da síntese visionária de Antônio Conselheiro: o sertão virou mar e o mar virou sertão. Viva Antônio Carlos Campelo Costa!

Joaquim Cartaxo é arquiteturbanista e superintendente do Sebrae/CE
Artigo publicado originalmente no jornal O Povo, edição de 9/5/2022