Estamos há exatos 365 dias do Manifesto do Coletivo Rosa Kliass (1). Há um ano arquitetas e urbanistas diversas se uniram para se fazerem ouvir, para dar caras, vozes e corpos à força invisibilizada que ativamente construiu e constrói a arquitetura e urbanismo nacional. Neste um ano, crescemos de coletivo a Comissão de Equidade de Gênero Rosa Kliass, estabelecemos a Vice-Presidência Extraordinária de Ações Afirmativas da Direção Nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil. Acima de tudo, consolidamos mais uma rede de trocas e reexistência feminina que vem se traduzindo de forma intersecional, plural e diversa pelo Brasil e o mundo.
Foi extremamente poderoso e transformador assistir a resiliência de diversas companheiras na disputa pela construção de uma política profissional mais equânime e diversa. Agradecemos e parabenizamos as centenas de mulheres que articularam mudanças na última eleição para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, destacando as ações das chapas 100% femininas, que destacaram os anseios de uma profissão majoritariamente feminina, que teima em silenciar e colocar às margens suas profissionais. As mulheres resilientes que suportaram e reagiram aos ataques nas disputas políticas, tantas vezes impostos e naturalizados pelo machismo.
Galgamos postos no IAB, entidade centenária, elegemos a primeira presidenta, criamos espaços de discussão e temos representantes nas cinco regiões e na Direção Nacional gritando que não somos invisíveis. Conquistamos espaços nas entidades irmãs, como na União Internacional de Arquitetos e Federação Pan Americana de Arquitetos, e hoje consolidamos uma trajetória de reconhecimento e homenagem às nossas colegas como o Colar de Ouro dado à Rosa Kliass e à Dora Alcântara, a Medalha de Ouro à Erminia Maricato. O lançamento do livro sobre o IAB é também fruto da perseverança feminina da decana Vera França e Leite.
É importante celebrarmos nossas conquistas e valorizar a rede de mulheres e aliados que torna esses avanços possíveis. Contudo, é igualmente essencial reconhecermos que estamos somente no início do percurso. Junto dessas conquistas, muito sofrimento e perdas marcam este último ano. Completamos doze meses de pandemia, onde as desigualdades de gênero já gigantescas se tornaram abismos escancarados no nosso cotidiano. O aumento da violência doméstica, de feminicídios, da pobreza, somados à constante obrigação de cuidado imputado e demando das mulheres, demostram um universo de desafios e anseios do feminino amplificados pelo vírus, mas extremamente mais complexos que ele.
O fato é que ser mulher no mundo, nos continentes, na América Latina, na Sociedade, na cidade e em casa é um desafio escalar. Mulheres passam despercebidas em equipes profissionais, ganham menos que seus colegas de profissão, exercem tríplice jornada, encaram seus múltiplos papéis, são vítimas dos acontecimentos, dão a volta por cima e ainda se esforçam para não perecer. A pandemia foi pródiga para acirrar o olhar sobre o feminino severamente conturbado. Esposa, mãe, chefe, subordinada… lutadora.
Estamos aqui para nos desconformar e mudar o rumo da história. Feliz Dia Internacional das Mulheres. Olhem para trás, vejam o que fizemos. Fizemos porque é impossível não reagir. Mas ainda temos muito a fazer. Parabéns, mulheres!
Sempre juntas, seguimos em luta!